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Empreendedorismo

Todo mundo empreende

Jaime Wagner
Fundador da WOW

A vida é feita de repetição e mudança. Rotinas são inevitáveis – mas viver apenas na rotina pode ser tedioso ou saboroso, dependendo da perspectiva. A zona de conforto é chamada assim por um motivo: ela serve bem àqueles que não buscam desafios. Mas quem aprende a se desafiar não suporta a monotonia da rotina. Empreender é, justamente, se propor a fazer algo difícil, realizar sonhos, enfrentar desafios e problemas. Um empreendimento requer, necessariamente, romper com a rotina porque significa fazer algo novo ou de forma inovadora, explorar novas alturas, enfrentar o desconhecido e a incerteza, sair da zona de conforto. É sempre uma aventura cujo resultado não é imediato porque não se sabe “o quê” fazer ou “como” fazer. A dificuldade maior é a incerteza ou a ignorância, que geram insegurança e uma certa inércia psíquica. Se aprendermos a lidar com o medo e a insegurança, resta a dificuldade objetiva, que pode ser enfrentada, como se enfrenta qualquer problema: dividindo e atacando por partes.

Entretanto, as dificuldades não devem ser subestimadas. O reconhecimento das dificuldades objetivas depende da quantidade de informações disponíveis sobre os possíveis obstáculos. Deve-se também avaliar a dificuldade subjetiva de suportar a insegurança e o esforço de aprendizado por um tempo indefinido ou longo. Desconhecer a dificuldade objetiva do problema é ingenuidade ou ignorância. Desconhecer ou negar os próprios limites e fraquezas é irresponsabilidade. Então, quando consciente do problema e responsável por si mesma diante do problema a pessoa se propõe uma meta difícil, ela passa a se interrogar sobre o que não sabe e se abre ao aprendizado no sentido das metas pretendidas. A maior sabedoria está em fazer as perguntas certas e não em ter as respostas prontas. As respostas prontas ou fáceis nem sempre são as melhores e podem ser apenas crenças falsas. A primeira pergunta mágica é: “qual é o próximo passo?”

O caminho é mais importante do que o destino, pois aí está o aprendizado e o crescimento pessoal. O primeiro passo é o mais crucial: vencer a inércia da comodidade, enfrentar o maior inimigo: a própria insegurança e o medo da frustração. É uma forma de competição onde não se trata de vencer, mas de enfrentar o medo. Competir vem do latim “competĕre”, onde o prefixo “com” significa união, encontro, e o verbo “petĕre” indica a iniciativa e a vontade de realizar algo. O esporte mostra que na competição se está jogando “com” o oponente e não contra ele. Luta-se sim contra os próprios limites, e o outro é a medida de nossas possibilidades. A vitória significa a superação de si mesmo e não a derrota do outro. A derrota do outro sem ter havido disputa não tem mérito nem glória. E se expor à disputa, que sempre inclui a possibilidade da derrota, já é aprendizado e crescimento. A realidade é indiferente e a sorte pode ser dura ou favorável.

As crises naturais do amadurecimento nos colocam alguns empreendimentos previsíveis: fazer uma faculdade, começar um emprego, mudar de cidade, formar uma família. Mas os empreendimentos que nos interessam aqui são aqueles que resultam de iniciativas e que podem ser encarados como projetos. Uma coisa é um projeto ou empreendimento pessoal, que depende só, ou principalmente de você. Outra coisa é um empreendimento conjunto, que envolve necessariamente outros stakeholders. Tornar-se um virtuose num instrumento ou um atleta diferenciado são projetos pessoais. Montar uma orquestra ou uma equipe são empreendimentos conjuntos. Empresas são empreendimentos econômicos que mobilizam recursos para produzir ou comercializar bens e serviços visando lucro ou não. Neste sentido, mesmo uma ONG ou uma orquestra são empresas, que precisam necessariamente cobrir os custos dos recursos que mobilizam.

Uma empresa começa como uma ideia que faz sentido para os stakeholders necessários: uma promessa de recompensa financeira ou emocional. Então, em primeiro lugar, o empreendedor precisa vender a sua ideia para sócios, colaboradores, investidores, fornecedores e clientes. Todos precisam acreditar na promessa. Trata-se de vender um sonho. Como promessa é dívida, o empreendedor é o grande devedor e uma empresa iniciante é uma bela dívida. E é preciso manter os pratinhos chineses girando para que o sonho não se torne um pesadelo.

Empreender não é tudo na vida, pode-se perfeitamente ser feliz ao participar como stakeholder do sonho de outros. Além disso, empreender não é para todos, pois é uma questão de temperamento. Temperamentos mais tímidos ou ponderados experimentam um sofrimento emocional muito grande ao enfrentar a incerteza do vale entre o pico do sonho e o morro da realização, que também pode se tornar o desfiladeiro do fracasso. Temperamentos mais ousados e com forte resiliência sim podem passar razoavelmente ilesos por essa curva de aprendizado.

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